No dia 7 de outubro, diversos terroristas ligados ao Hamas, grupo que governa a Palestina, invadiram Israel por terra, água e ar. Além de foguetes, o grupo usou drones com explosivos, militantes em parapentes, e até uma retroescavadeira para derrubar os muros de ferro que separam Israel da Faixa de Gaza. Na sequência, invadiram cidades israelenses próximas, assassinando quem encontravam pelo caminho. Com mais de 1,3 mil israelenses mortos, incluindo bebês e idosos, em ações de extrema brutalidade, esse atentado é considerado o pior desde o Holocausto em termos de vítimas judaicas e, apesar da sua gravidade, as redes sociais foram tomadas por comentários minimizando ou até justificando os ataques.
No dia 15 de outubro, o influenciador Rodrigo da Silva, fundador do site Spotniks, publicou uma série de tuítes destacando estes comentários de ódio. Entre as mensagens, diversas manifestações de apoio ao ditador nazista Adolf Hitler e pedidos de morte aos judeus. Embora muitas contas pareçam ser robotizadas, há a possibilidade de serem apenas perfis alternativos utilizados para extravasar antissemitismo à vontade. Há, entretanto, publicações feitas por pessoas de carne e osso que não tiveram medo de declarar apoio ao Hamas, sendo alguns destes, ironicamente, participantes de instituições que lutam contra o “discurso de ódio” e de grupos que tentaram emplacar a narrativa de que o bolsonarismo é nazista.
Embora sejam aceitáveis as manifestações em favor da Palestina, pedindo paz e o cessar dos conflitos, o apoio aos ataques do Hamas, principalmente neste momento em que foi revelado que civis foram assassinados – incluindo bebês decapitados e incendiados – não deveria ser tolerável.
Manifestações pró-terrorismo
Manifestações pró-Palestina foram registradas em todo o mundo, a maioria realizadas e organizadas por grupos de esquerda. A França, país que já foi palco de vários atentados terroristas e que nos últimos anos recebeu refugiados muçulmanos em massa, proibiu estas manifestações. Estrangeiros que violarem as regras serão sistematicamente deportados, enquanto franceses poderão ser presos. Nos Estados Unidos, estudantes de Harvard publicaram uma carta culpando Israel pelo ataque do Hamas e um perfil do Black Lives Matter no Twitter publicou uma ilustração de um parapente, método de transporte usado pelos terroristas no massacre do festival de música, e a frase “I stand with palestine”. A publicação foi posteriormente apagada.
A atriz pornô de origem libanesa Mia Khalifa celebrou os ataques do Hamas contra Israel, comparando-os a um quadro renascentista. Mia foi demitida da Playboy e da Red Light Holanda, empresa holandesa de cogumelos alucinógenos da qual era garota-propaganda. Moradora dos Estados Unidos desde os 10 anos, Mia ficou mundialmente famosa por um filme pornô em que aparece tendo relações sexuais utilizando um hijab, parte do vestido tradicional feminino muçulmano. Por causa desta cena recebeu ameaças de morte do ISIS, organização terrorista baseada no Iraque e na Síria.
Manifestações de apoio ao Hamas, travestidas de apoio ao povo palestino, também foram realizadas em vários locais do Brasil por organizações de esquerda. No último domingo (22), foi realizada em São Paulo, na praça Oswaldo Cruz, uma manifestação em apoio ao Hamas por militantes do Partido da Causa Operária (PCO) e Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). Em um dos momentos do ato, registrado nas redes sociais, um dos militantes em cima de um trio elétrico pediu uma “salva de palmas” para o “Hamas, para a Jihad Islâmica e para todos os grupos que lutam pela Palestina” exigindo o fim do estado de Israel. Imagens de bandeiras de Israel sendo incendiadas também foram registradas.
Outro ato foi realizado no dia 10, ou seja, quatro dias após os ataques do Hamas, na Esplanada dos Ministérios em Brasília. Cerca de 150 pessoas compareceram à manifestação, em que foram entoados gritos de “Viva o Hamas!”. Além de PCO e PSTU, participaram grupos ligados a partidos de esquerda como Partido Comunista Brasileiro (PCB), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Participaram estudantes da Universidade de Brasília, além de integrantes de movimentos sociais como União Nacional dos Estudantes (UNE), União da Juventude Comunista (UJC), Coletivo Juntos, Levante Popular da Juventude — aqueles da dancinha “tô com Maduro” — e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
O MST, dois dias depois dos ataques, publicou nota em "apoio total e irrestrito à luta do povo palestino", afirmando que a "A Resistência Palestina, desde Gaza, reagiu, de maneira legítima, às agressões e à política de extermínio que Israel implementa na região há mais de 75 anos”. O MST também declarou “à brava Resistência Palestina em Gaza” que seguirá “apoiando e defendendo o direito legítimo dos povos a reagir contra a opressão". A nota foi apagada posteriormente, com a justificativa de que a declaração havia sido deturpada e se tornado alvo de fake news.
Defensor ferrenho da liberdade de expressão, algo que fez parte da direita ter simpatia com o partido, o PCO declarou que está “1.000% com o Hamas”. Uma de suas militantes, Helena Maués, conhecida como “e-girl do PCO”, publicou no Twitter: “toda ‘violência’ prepetada [SIC] pelo Hamas é justificada. Fim do Estado de Israel, todo apoio ao Hamas e ao povo palestino”. A publicação foi removida por violar as regras da rede social sobre discurso de ódio, mas pode ser lida aqui.
Discursos de ódio
No dia em que o Hamas atacou Israel, um perfil no Twitter divulgou o vídeo em que uma mulher era levada pelos radicais, levantando a hipótese de estupro. Em resposta, o assessor parlamentar Sayid Marcos Tenório, que também é vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina, zombou: “Isso é marca de merda. Ela se achou [cagou] nas calças”, disse. No mesmo dia, Tenório chamou de fajuta a nota de repúdio aos ataques divulgada pelo presidente Lula, afirmando que os ataques não eram terroristas e que “os palestinos têm o direito de resistir a opressão e o roubo de terras que Israel pratica há mais de 75 anos”.
Com a repercussão negativa, Tenório excluiu os perfis nas redes sociais. Mesmo assim, foi exonerado pelo deputado federal Márcio Jerry (PCdoB-M), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, do cargo de assessor, em que recebia mais de R$ 20 mil. Tenório, que é colunista do site Brasil247, onde publicou artigo com o título “Os laços do sionismo com o Nazismo”, se encontrou com o ministro de Relações Institucionais de Lula, Alexandre Padilha, dois dias antes do ataque a Israel, e o presenteou com o seu livro “Palestina, do mito da terra prometida à terra da resistência”.
Tenório também publicou nas redes sociais foto de seu encontro com Sílvio de Almeida, ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, pasta que no início do ano instaurou um grupo para a elaboração de um relatório com estratégias de enfrentamento ao discurso de ódio e ao extremismo no Brasil. Ironicamente, os diversos integrantes da equipe já realizaram discursos de ódio no passado e alguns expressaram apoio ao Hamas. Uma destas pessoas é a professora da Universidade de São Paulo (USP), Francirosy Campos Barbosa que em seu perfil, agora desativado, teceu declarações a favor do Hamas, afirmando que “cada povo luta com as armas que tem”, e em seguida disse que os bombardeios contra Israel se tratavam apenas de “colonos ilegais sendo expulsos”.
O relatório foi coordenado por Manuela d’Ávila, ex-deputada federal pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que homenageou Che Guevara na Câmara dos Deputados, em 2007, e que tentou amenizar os genocídios praticados por Josef Stalin e Mao Tsé-Tung durante uma entrevista ao programa Roda Viva, em 2020. Manuela é também jornalista e apresenta o programa “Expresso Com Manu”, exibido no canal do Opera Mundi, site que é comandado por Breno Altman, um jornalista de esquerda que comemorou o bombardeio do Hezbollah contra Israel e o crescimento de “perdas sionistas”.
A bacharel em Relações Internacionais, Fernanda de Melo, preletora em um evento que seria realizado nas dependências da USP sobre a “questão da Palestina”, escreveu “foi tarde” ao comentar o assassinato da brasileira Bruna Valeanu pelo Hamas. O evento onde Fernanda seria palestrante contou com o apoio de várias entidades de esquerda e foi organizado pelo grupo Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP) da USP, do qual ela é membro.
Em publicações nas redes sociais, Gleide Andrade, conselheira de Itaipu por nomeação de Lula, escreveu que “Israel é assassino e não merece ser Estado” além de ser uma “vergonha para a humanidade”. Após a repercussão, Gleide, que também é Secretária Nacional de Planejamento e Finanças do PT, apagou algumas das mensagens mais pesadas.
Governo Lula
O Partido dos Trabalhadores (PT) e o presidente Lula, embora tenham condenado os ataques a Israel, evitaram utilizar os termos terrorismo e assassinato – quando comentavam sobre o assassinato de brasileiros pelo grupo terrorista –, revelando condescendência aos ataques. Mas esta posição é coerente com atitudes anteriores da legenda. Em 2021, petistas, incluindo os ministros Alexandre Padilha, do Ministério das Relações Institucionais, e Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social, manifestaram-se contra a classificação do Hamas como uma “organização terrorista”. Esta posição foi tomada após a secretária do Interior do Reino Unido designar o Hamas como tal, uma decisão que os petistas criticaram em uma nota.
A posição petista revoltou parte de seu eleitorado, como o jornalista Caio Blinder, que no Twitter expressou arrependimento por ter votado em Lula nas últimas eleições. A Embaixada de Israel no Brasil também se indignou com o posicionamento do PT e respondeu em uma nota, afirmando ser “muito lamentável que um partido que defende os direitos humanos compare a organização terrorista Hamas, que vai de casa em casa para assassinar famílias inteiras, com o que o governo israelense está fazendo para proteger os seus cidadãos”. A embaixada também afirnou que “qualquer pessoa que pense que o assassinato bárbaro, a violação e a decapitação de pessoas é uma posição política, ou que se trata apenas de uma luta política legítima, possui uma extrema falta de compreensão da atual situação”.
No dia 18 o presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Hélio Doyle, foi demitido pelo governo Lula após compartilhar publicações nas redes sociais contra apoiadores de Israel. "Não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante", escreveu o cartunista Carlos Latuff, posteriormente repostado por Doyle. A demissão ocorre em um momento em que o governo Lula busca se desvencilhar de suas manifestações anteriores pró-Palestina e tenta emplacar uma narrativa de “busca pela paz”.
Motivações
Muitos se perguntam por que a esquerda progressista, conhecida por levantar bandeira questões como direitos LGBT e direitos das mulheres, oferece apoio a grupos como o Hamas, que é considerado uma organização terrorista por diversos países e oprime estas minorias. Um artigo de Gabriel de Arruda Castro para o jornal Gazeta do Povo faz uma análise deste fenômeno, vinculando-o às ideias de Karl Marx, que estabeleceu uma dicotomia maniqueísta entre "opressores" e "oprimidos". Essa visão é transportada para o conflito Israel-Palestina, onde Israel é automaticamente categorizado como o "opressor" e os palestinos (e, por extensão, o Hamas) como os "oprimidos". Essa classificação simplista permite à esquerda justificar ou ignorar ações do Hamas que vão de encontro aos princípios que afirmam defender.
O texto também evidencia que diversas organizações e personalidades políticas de esquerda no Brasil e nos Estados Unidos continuam a expressar apoio ao Hamas, mesmo após atos de violência contra civis. Este apoio frequentemente é fundamentado na premissa de que "resistência não é terrorismo" — ideia consagrada no bordão de Malcom X “não confunda a reação do oprimido com a violência do opressor”.
A conclusão comum é que essa postura, enraizada em ideias marxistas, não só perpetua um legado antissemita como também apresenta implicações perigosas. Especialmente no contexto contemporâneo de violência e conflito, a justificação ou a minimização de ações do Hamas por parte da esquerda resulta em uma perigosa normalização da violência e entra em flagrante contradição com os princípios de direitos humanos e igualdade que a esquerda afirma defender.
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