Da euforia à ruína: como jogos de azar online destroem a vida de brasileiros

A popularização dos sites de apostas tem gerado graves consequências e preocupa especialistas, que observam aumento na busca por intervenções terapêuticas.

Por: Rachel Diaz
08, set. de 2023 às 15:06
Da euforia à ruína: como jogos de azar online destroem a vida de brasileiros
Imagem: Pixabay

Mãe dedicada de dois filhos pequenos, cristã, técnica em enfermagem e voluntária em projetos sociais. Essa era Jaciara Borges, moradora de Pastos Bons, uma pequena cidade de 18 mil habitantes localizada no interior do Maranhão. Em agosto, Jaciara foi encontrada morta em sua casa. Embora não tenha sido divulgada a causa da morte, vizinhos afirmaram nas redes sociais que ela teria se suicidado após perder cerca de 16 mil reais no aplicativo de apostas Fortune Tiger. O dinheiro perdido seria a soma de recursos enviados pelo marido de Jaciara, que estava trabalhando em São Paulo, para que o casal pudesse realizar o sonho de construir uma casa própria. 

Também no mês de agosto, na cidade de Porto Velho, em Rondônia, um homem foi preso após esfaquear sua companheira, que teria gasto todo o dinheiro do casal no Fortune Tiger, mesmo jogo em que Jaciara apostava. A vítima, atingida com golpes no tórax e nas coxas, foi socorrida pelo SAMU após a chegada dos policiais no local. Informações sobre o estado de saúde da mulher não foram divulgadas após a repercussão da notícia nas redes sociais.

Esses são alguns dos diversos casos recentes, e graves, de pessoas viciadas em apostas em cassinos virtuais no Brasil. Embora os jogos de azar sejam proibidos no país desde 1946 — quando o então presidente Eurico Gaspar Dutra assinou o Decreto-Lei 9 215, argumentando que a prática de apostas era degradante ao ser humano, e o ato de apostar também seja considerado uma contravenção penal, punível com prisão simples de 15 dias a 3 meses ou multa — nos últimos anos, cassinos online, como a Blaze, BetFair e Fortune Tiger, têm se proliferado no Brasil. 

A popularização destes aplicativos é impulsionada pela divulgação feita por youtubers e influenciadores digitais, como Felipe Neto, Neymar Jr, Mel Maia e Gkay, que possuem contrato com as plataformas, como a Blaze, e as divulgam com frequência em suas redes sociais. Para atrair novos apostadores, exibem capturas de telas e vídeos que, supostamente, comprovam a eficácia e retorno das apostas. 

Por causa da divulgação das plataformas de cassino online ser feita, em sua maioria, com a promessa de uma “renda extra” para o novo jogador, muitas pessoas de origem humilde ou que necessitam de um dinheiro a mais investem os poucos recursos que têm nas bancas com a esperança de ter algum tipo de retorno. Porém, na vida de muitas pessoas, o jogo tem causado, além da perda de patrimônio, problemas familiares e desenvolvimento de doenças psicossomáticas, como ansiedade e depressão. Vidas destruídas

Em 2020, o vendedor carioca Rodrigo Silva, 23, que é casado e tem um filho de três anos, entrou no mundo das apostas online por meio de anúncios no Facebook, que despertaram sua curiosidade. Rodrigo relata que começou com apostas de R$ 150 a R$ 250 na plataforma de apostas esportivas Bet365. Conforme a aposta não batia, apostava de novo e aumentava o valor, injetando valores cada vez mais altos.


“Eu comecei a fazer parte desses grupos de sinais e estratégias no Facebook e isso me incentivava a jogar. Cada resultado me dava vontade de colocar mais dinheiro e, quando eu não conseguia, apostava de novo para tentar recuperar o que eu tinha perdido”, completou.


Com o tempo, Rodrigo adquiriu uma dívida de cerca de 6 mil reais e ficou sem dinheiro para apostar. Diante das dificuldades financeiras, o vendedor teve uma ideia arriscada: ele iria vender seu carro — seu principal instrumento de trabalho —, apostaria todo o valor para recuperar o dinheiro e sairia do mundo das apostas para sempre. 


Rodrigo vendeu o carro por 7,5 mil reais e tentou recuperar o valor perdido nas apostas. Porém, nada saiu como o esperado. O vendedor não conseguiu recuperar o dinheiro e, por conta da venda do veículo, não consegue mais trabalhar. 


“Eu trabalhava com a venda de ovos e frutas em meu veículo, rodando o Rio de Janeiro. Agora eu não consigo mais trabalhar. Penso em alugar um veículo ou algo do tipo, mas é complicado. Quando eu vendi o carro, peguei parte do valor para fazer compras, e isso é o que está nos auxiliando. Mas quando a comida acabar, não sei como iremos fazer”, completou Rodrigo, que abriu uma vaquinha online para coletar fundos e voltar a trabalhar.


Outra pessoa que teve a vida destruída pelo vício em jogos é a confeiteira paulista Jordana (nome fictício), de 27 anos, que foi introduzida ao mundo das apostas online através de uma divulgação realizada pelos influencers Lucas Lira e Bruna Sunaika, ambos patrocinados pela Blaze. Influenciada pela ideia de uma “renda extra”, que era vendida pelos influenciadores que divulgavam o aplicativo, Jordana fez sua primeira aposta e lucrou 380 reais.


Nesta época, Jordana passava por uma gravidez de risco e precisou parar de trabalhar. Mesmo assim, ela afirma que tinha uma vida estabilizada e dinheiro suficiente para fazer o enxoval de sua filha, além de não ter de se preocupar com o próprio sustento nos próximos meses.


“Fiquei animada e em estado de euforia, então joguei de novo. Mas, dessa vez, eu perdi tudo, por isso continuei a jogar pra tentar recuperar o prejuízo. Eu tinha 15 mil reais em uma poupança e perdi, o que fez com que eu buscasse outras formas de colocar dinheiro no jogo, como emprestar dinheiro com outras pessoas e até agiotas. Foi assim até eu perder tudo e perceber que ‘perdeu, acabou’”, conta.


Jordana estima que perdeu cerca de 50 mil reais em apostas na Blaze, além de ter tido um retorno de apenas 4 mil reais nos jogos em que jogou. Para pagar parte da dívida com agiotas, a mulher vendeu uma televisão de 70 polegadas e um “PC gamer”. 


Por causa da pressão psicológica e dos danos causados pelo vício, Jordana desenvolveu depressão, se separou de seu marido e tentou suicídio três vezes. Atualmente, a confeiteira faz tratamento com psicólogo e psiquiatra, além de frequentar a igreja. A relação com o ex-marido vem sendo reconstruída aos poucos, porém, a relação com a família foi totalmente fragilizada. 


“Minha família arcou com as dívidas que fiz com agiotas. Não tenho mais contato pois perdi a confiança deles e de outras pessoas que estavam ao meu redor. Fui ameaçada de morte e minha filha mais velha sofreu demais com toda a situação, pois todos viraram as costas para nós. Ela se sentia como se fosse me perder a qualquer momento”, contou.


Comunidades


Outra forma de atrair novos jogadores são as redes sociais, como o Facebook, onde existem vários grupos públicos divulgando sites, esquemas e scripts de apostas, sistemas que automatizam as apostas e são vendidos ao público com a promessa de aumentar as chances de acertos, consequentemente aumentando os ganhos.


Uma dessas comunidades, que possui quase 40 mil membros, foi criada há cerca de um ano e, na semana anterior à finalização desta reportagem, contava com mil novos membros. Em algumas das publicações feitas nesses grupos, os apostadores realizam a recomendação das plataformas mesmo sem ter certeza de que essas pagariam o valor obtido através das apostas. “Esse site aqui tá pagando 40 no cadastro, 80 na auditoria. Não sei se a plataforma paga, ainda tô jogando pra saber”, escreveu um dos usuários. 


Em outro grupo, um membro relata ter utilizado cartão clonado para apostar na plataforma Betano. “Segundou, papai! Outro cartão clonado que peguei, botei na Betano e saquei. Quem quiser a fonte, é só chamar no chat que eu ensino. Tô falando, esse é o esquema da vez”, disse, compartilhando no grupo um comprovante de saque.


Também é possível encontrar pessoas pedindo dinheiro emprestado para fazer apostas. “Alguém me empresta 5 reais pra eu fazer uma aposta nesse site? Ele só permite saques acima de 10. Eu devolvo o dinheiro pra pessoa que me emprestar até às 21h”, escreveu um dos usuários. 


No caso dos aplicativos de mensagem, como WhatsApp e Telegram, foi possível concluir que a prática mais comum entre os apostadores é o compartilhamento de códigos de referência e comercialização de scripts que prometem maximizar os ganhos nos jogos.


O algoritmo dos cassinos online


Segundo o programador e analista de dados Matheus Silva, 26, os cassinos online são programados para que o jogador tenha perdas na medida em que ele permanece jogando. Os influenciadores têm papel fundamental, pois ganham dinheiro com os códigos de referência usados pelos apostadores, que frequentemente perdem dinheiro nas apostas. Da mesma forma, a plataforma de apostas também lucra com essas perdas. Matheus revela que o sistema da Blaze é programado para incentivar vitórias iniciais, configurando a taxa de perda da conta para ser entre 2% e 3% nos primeiros jogos, um valor considerado baixo.

À medida que a pessoa continua jogando, o sistema é configurado para aumentar a frequência e o valor das perdas. Isso acontece em grande parte dos cassinos online, pois as casas de apostas sempre buscam o lucro e os jogadores raramente conseguem obter grandes ganhos, já que isso significaria prejuízos para as próprias casas de apostas. O objetivo principal é o lucro das casas de apostas, não dos jogadores.

Matheus afirma que a programação do sistema é projetada para estimular emoções no jogador, incentivando-o a continuar jogando e, assim, aumentando suas perdas. O sistema explora o impulso do jogador de tentar "recuperar o prejuízo" após uma perda, levando-o a um ciclo vicioso de pequenos ganhos e grandes perdas.


“Como as contas comuns são programadas para perder gradativamente, todos os vídeos de divulgação publicados para ‘comprovar’ a eficácia dos jogos são feitos com contas de teste, que são programadas para ter uma grande porcentagem de ganhos e porcentagem pequena de perdas. Também possuem um grande número de saldo na banca, diferente das contas padrão, que funcionam com o saldo investido pelo jogador”, conta. 


Os influenciadores que possuem contrato com a Blaze têm consciência de onde seus ganhos saem e fazem o uso das contas de teste para as divulgações publicadas nas redes sociais. Mesmo com as polêmicas relacionadas à casa de apostas, muitos deles continuam afirmando que jogar na Blaze é confiável e pode trazer grande retorno financeiro.


Para tentar maximizar seus ganhos e “levar vantagem”, muitos recorrem ao uso de programas automatizados para tentar burlar o algoritmo dos jogos. A venda é feita em diversos canais, desde aplicativos de mensagens como WhatsApp e Telegram até websites especializados e plataformas de infoprodutos como Hotmart.


Esses programas, também conhecidos como "robôs", alegam analisar as probabilidades e fazer a melhor aposta para o jogador. A eficácia desses sistemas varia de acordo com o anúncio: enquanto uma oferta na Hotmart promete 95% de eficácia, outra em um site especializado afirma 98,2% de sucesso.


Também há a opção de revenda dos scripts. Em um dos sites encontrados pela reportagem, o leitor é convencido de que a revenda dos robôs e a criação de salas próprias para a divulgação de sinais é voltada para “pessoas que buscam um infoproduto de baixo investimento e alta margem de lucro”, ou “afiliados que buscam renda extra utilizando apenas o celular”. 


“Temos 100% de convicção que nossa sala de sinais é o produto ideal para você iniciar seu próprio negócio”, diz um dos banners presentes no site. Abaixo deste, há opções de planos de assinatura para aquisição do programa, que variam de um período de teste de 7 dias por 13 reais a assinaturas mensais entre R$ 79 e R$ 199. Segundo Matheus, os scripts de programação proporcionam uma falsa segurança ao apostador, e sua eficácia não pode ser comprovada. Além disso, as operações dos robôs são, em maioria, forjadas. 


“Os vendedores lucram em cima dessa sensação de segurança porque é necessário pagar uma taxa para usar os scripts. A porcentagem grande de eficácia que é prometida nesses anúncios é bastante suspeita, visto que o algoritmo das casas de apostas é programado pra casa sempre sair ganhando. Por causa disso, não dá pra comprovar a eficácia desses scripts”, explica.


Psicologia do vício


O vício em apostas (também chamado de jogo patológico ou ludopatia) é caracterizado pelo ato de jogar compulsivamente, apesar das consequências negativas que podem ocorrer durante a jogatina, como a perda de dinheiro. A ludopatia é tida como um vício comportamental e considerada, desde 1980, como doença pela OMS, que estima que cerca de 0,1 a 6% da população mundial sofra com o problema.


Especialistas classificam o transtorno como um tipo de dependência similar à dependência química por conta dos altos níveis de dopamina que são liberados no cérebro de um jogador compulsivo quando ele ganha, o que leva com que o jogador passe a se arriscar mais para ter uma sensação prolongada de sucesso e prazer.


Segundo uma reportagem da Folha de São Paulo, há diversos elementos que podem predispor indivíduos ao vício em jogos. Entre eles estão a iniciação precoce em apostas, a visão do jogo como fonte de renda e a influência de amigos e familiares. Além disso, características pessoais como predisposição genética e a presença de outros vícios também podem contribuir para o desenvolvimento dessa dependência.


O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) fornece critérios diagnósticos adicionais para identificar o jogo patológico. O manual cita sintomas como a necessidade de apostar quantidades crescentes de dinheiro, mentiras frequentes sobre o grau de envolvimento no jogo e até a realização de atos ilegais para financiar o hábito.


Em pesquisa publicada por médicos americanos em 2011, as apostas atingem o pico na faixa etária dos 22 ao 30 anos, com 89% dos respondentes nessa faixa etária tendo apostado no ano anterior em que a pesquisa foi realizada. Recentemente, alguns estudos vem tentando esclarecer se os sistemas de "gacha" e "lootbox" presentes em jogos online podem contribuir para o desencadeamento do vício em jogos de azar em adolescentes.


Segundo artigo publicado em 2022 por professores do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB), experimentos realizados por profissionais concluíram que há uma relação de baixo a médio grau entre o uso de “lootboxes”, caixas de recompensa de microtransações inseridas em jogos eletrônicos, e os sintomas de vício em jogos de azar. 


O artigo também apontou que, para conclusões mais assertivas sobre a problemática, se faz necessária a aplicação de experimentos longitudinais para avaliar os efeitos do consumo desse tipo de conteúdo a longo prazo, estabelecendo, de forma mais sólida, a relação entre jogos de azar e os “lootboxes” dos jogos online. Além disso, os autores indicaram que profissionais da área da computação devem realizar mais pesquisas para buscar algoritmos que minimizem os possíveis efeitos danosos de produtos relacionados a jogos eletrônicos antes destes serem lançados no mercado.


O coordenador do Pro-Amjo (Programa Ambulatorial do Jogo Patológico) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Hermano Tavares, em entrevista ao jornal O Tempo, afirma que há uma mudança progressiva no perfil que busca tratamento para o vício em jogo. Até 2018, o paciente tinha idade média de 47 anos e o jogo era, principalmente, o caça níquel eletrônico. Agora, estão chegando no ambulatório indivíduos de 20 a 25 anos. 


Na mesma reportagem, a psiquiatra Carla Bicca, coordenadora da Comissão de Adicções da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), conta que houve uma alta repentina neste último ano, que foi impulsionada pela pandemia de Covid-19.


Grupos de apoio


Para tratar o vício, os ludopatas geralmente buscam ajuda psiquiátrica (consultas ou internação) e terapias em grupo, como as reuniões da irmandade Jogadores Anônimos (Gamblers Anonymous, em inglês), onde os membros seguem um programa de 12 passos similar ao que é aplicado nas irmandades Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA).


Alexandra (nome fictício), de 65 anos, faz parte do Jog-Anon, um grupo de apoio para familiares de jogadores compulsivos, há cerca de 19 anos. Ela relata ter entrado para a irmandade após ter passado dificuldades com seu ex-marido, que sofria com a ludopatia.


A mulher, que é funcionária pública, trabalhava ao longo do dia e deixava a administração financeira do casal a cargo do ex-esposo, que era vendedor ambulante. Há 20 anos, pouco antes de ir trabalhar, Alexandra escutou as palavras que mudariam totalmente a vida do casal


“Ele admitiu ser um jogador compulsivo, e disse que tinha acabado com nossa vida financeira. A conta bancária dele estava bloqueada, ele não tinha mais talões de cheque e tinha estourado o limite de todos os meus cartões. As dívidas em meu nome passavam dos 70 mil reais”, diz.


Para poder reverter a crise, Alexandra assumiu todas as contas da casa, porém, seu ex-marido continuou a sustentar seu vício. Um ano após a revelação, a mulher descobriu que ele havia sacado suas restituições do imposto de renda dos três anos anteriores, tentando despistar a ausência do dinheiro falando para ela que o dinheiro havia sido retido pela Receita Federal. A partir disso, Angela buscou apoio em Jog-Anon para tentar entender e poder lidar com o que estava passando.


“Antes de entrar em Jog-Anon, eu me desdobrava para fazê-lo feliz, pois acreditava que assim ele cessaria com sua fixação. Isso afetou até a relação com minhas filhas, pois quando ele estava em casa, minha principal função era agradá-lo”, relata. “Depois de eu ter descoberto o grupo de apoio, entendi que eu não conseguiria impedir ele de jogar, e que eu precisava de ajuda para me reencontrar comigo mesma. Ali, eu me libertei”, completou.


Alexandra e seu esposo passaram a frequentar o Jog Anon juntos, porém, em reuniões separadas. O casal se reaproximou e voltou a ter as conversas que tinham antes da turbulência causada pelo vício, o que fez com que, com o tempo, a rotina familiar voltasse ao normal. As dívidas foram pagas, e o casal permaneceu junto até que o esposo de Alexandra decidiu sair do Jog Anon, pedindo para que ela também se desligasse. A mulher não acatou o pedido do marido, e por isso, ele decidiu encerrar o casamento.


Apesar disso, Alexandra afirma que perdeu o marido, mas ganhou um amigo para a vida toda. “Perdi o esposo, mas ganhei um amigo maravilhoso. Nós temos uma boa relação, compartilhamos nossas felicidades, tristezas e nos apoiamos mutuamente”, conta.


Para Alexandra, para a recuperação do jogador compulsivo, é importante que ele seja reconhecido como tal e tenha o apoio de seu núcleo familiar. A aceitação libera a família do sentimento de culpa, e traz ao jogador a consciência de que cabe a ele a missão de controlá-la de forma responsável. 


Diante disso, o jogador deve fazer o possível para evitar uma recaída, e a família pode auxiliá-lo na adaptação adotando hábitos mais saudáveis e incentivando ao apoio psicológico, com tratamento psiquiátrico e presença nos grupos de ajuda.


O grupo de apoio voltado para jogadores compulsivos, o
Jogadores Anônimos (JA), está presente em nove estados do país, também oferecendo reuniões de apoio online. Já o Jog-Anon, centrado em familiares, está presente em seis estados e, assim como o JA, conta com reuniões online.

Influenciadores e Apostas


Segundo o site Similarweb, atualmente, a Blaze é o 49º site mais acessado do Brasil, com 43 milhões de acessos no último mês. No mesmo ranking, também aparece a Bet365, que acumula 169 milhões de acessos apenas no mês de agosto. O site ocupa a posição de 31º website mais acessado do Brasil e o mais acessado em seu segmento específico. 


Ambos os sites são hospedados fora do Brasil; por causa da proibição de âmbito nacional, os principais cassinos online divulgados por influenciadores têm seus domínios registrados fora do Brasil para garantir seu funcionamento, além de ser uma forma de desviar de possíveis processos judiciais que podem ser direcionados às casas de apostas. Normalmente, os sites são registrados nos países de Malta, Curaçao e Gibraltar, onde a atividade é legal e regulamentada.


Em um vídeo publicado em maio de 2023, o youtuber Daniel Penin expôs detalhes do contrato oferecido pela Blaze para influencers e mostrou que a plataforma está hospedada fora do país, em um paraíso fiscal, e que não há dados públicos sobre os proprietários e funcionários da Blaze. Também não foi encontrado nenhum tipo de representante formal da Blaze no Brasil.


Conforme apuração do Portal do Bitcoin, no formulário disponibilizado para parceria com influencers, a casa de apostas apresenta algumas exigências: ter o mínimo de 500 mil seguidores no Instagram e possuir 10 mil visualizações por vídeo no Youtube. Após o preenchimento deste formulário, um código exclusivo para influenciadores é gerado. A plataforma também afirma que, antes mesmo de chegar a ter uma remuneração maior, qualquer usuário pode recomendar novos apostadores e poderá ganhar até R$ 20 por indicação.


Em 2022, a Blaze também assinou um contrato com o Botafogo, tornando-se seu maior patrocinador até o final da temporada daquele ano. Na época, o empresário norte-americano John Textor, acionista majoritário da companhia que gere o futebol do Botafogo, falou sobre o acordo de patrocínio: “A Blaze possui uma mentalidade disruptiva alinhada com o nosso projeto e vê no Botafogo o parceiro ideal para alavancar seus negócios. O Clube quer sempre ter os melhores ao seu lado. A Blaze é também uma ‘escolhida’ e tem tudo a ver com o Botafogo. O nome da empresa remete a chama e o símbolo tem o fogo como elemento”. Atualmente, a Blaze patrocina os times Santos e Atlético Goianiense.


Os dias podem estar contados


Nesta segunda-feira (04), a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) acatou um pedido da Justiça de São Paulo para retirar o site da Blaze do ar em todo o território nacional. A determinação da Justiça se dá pela Blaze ter sido citada na CPI das Pirâmides Financeiras, que ocorre na Câmara dos Deputados e também investiga as empresas 123Milhas e 18k Ronaldinho, suspeitas de aplicarem golpes de pirâmide financeira em clientes e investidores. 

O pedido de bloqueio foi solicitado em 22 de agosto pela 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores de São Paulo. Na decisão, o juiz Guilherme Eduardo Martins Kellner menciona as apostas do tipo Crash, nas quais os jogadores "experimentam sua sorte" ao tentar acertar o momento ideal para sair e obter lucro. O magistrado categoriza essa modalidade como um "jogo de azar associado a softwares geralmente adquiridos no exterior".

Durante a CPI, os parlamentares convocaram para prestarem depoimento os presidentes do Santos e do Atlético Goianiense, times que têm patrocínio da Blaze. Andres Rueda, o líder do clube paulista, confirmou que receberam R$ 45 milhões por um contrato de dois anos, com R$ 25 milhões pagos imediatamente e o restante dividido em 23 parcelas. Segundo ele, os pagamentos têm sido feitos de maneira regular.

A decisão direcionada à Blaze, que atualmente é a maior casa de apostas online em funcionamento no Brasil, também pode afetar outros cassinos online conforme o andamento da CPI, visto que, assim como a Blaze, suas práticas e métodos de divulgação se assemelham a esquemas de pirâmide financeira.


Por mais que a prática possa se encaixar na atividade de jogo de azar, prevista como crime na lei de 1946, não há regulamentação específica para os cassinos online no Brasil. No senado federal, o projeto de lei nº 442 de 1991, que possui a finalidade de regulamentar a prática de jogos de azar no Brasil, permanece em tramitação e aguarda a análise do plenário. 


Outro projeto de lei, o PL 2.350/2022, também tramita no Senado e tem como o objetivo obrigar casas de apostas e atividades similares a alertar os jogadores sobre o risco do vício. A obrigatoriedade valeria para pessoas físicas ou jurídicas que mantenham casas lotéricas, jóquei clubes, casas de pôquer e videopôquer, casas de apostas esportivas de quota fixa e também as que promovem atividades de jogos de azar ou aposta por meio da internet. O descumprimento, total ou parcial, da regra proposta sujeitará o infrator ao pagamento de multa de R$ 300 mil à União.

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