TSE nega 'colaboração informal' alegada no Lattes da 'Bruxa da Vaza Toga'
Mencionada na Vaza Toga, Leticia Sallorenzo atuou nos bastidores do TSE enviando dossiês e exigindo remoções de contas em redes sociais.
Semana passada, solicitei ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), via Lei de Acesso à Informação (LAI), esclarecimentos sobre Letícia Sallorenzo, a "Bruxa da Vaza Toga", cuja identidade foi revelada por nossa reportagem. Descobrimos que Sallorenzo se apresenta como "colaboradora informal" do TSE em seu currículo Lattes, onde declara exercer essa função não remunerada desde 2022, com uma carga horária de 20 horas semanais. Fiz o pedido via LAI porque o Tribunal não respondeu aos nossos questionamentos anteriores.
Perguntei ao TSE sobre registros formais, atribuições e a existência de materiais ou documentos que pudessem comprovar essa colaboração de Sallorenzo. A primeira resposta foi evasiva: alegaram não comentar matérias jornalísticas, redes sociais ou qualquer conteúdo que não fosse de sua autoria.
Refiz o pedido, desta vez destacando a ausência de informações sobre Sallorenzo no Portal da Transparência do TSE e nos contratos firmados pelo Tribunal. Hoje, recebi a resposta: embora tenha ignorado novamente a maior parte de minhas perguntas, o TSE informou que "não há vínculos dessa natureza no âmbito do TSE", referindo-se à alegada "colaboração informal".
Ou seja, segundo o TSE, não existem contratos ou registros formais de pessoas atuando de forma informal no Tribunal, ao contrário do que Sallorenzo afirma no seu Lattes. No entanto, fontes nos confirmaram que Sallorenzo atuava nos bastidores, enviando dossiês de críticos do ministro Alexandre de Moraes e exigindo de seus assessores a remoção de contas em redes sociais.
O advogado André Marsiglia, especialista em direito constitucional, afirmou que esse tipo de relação é ilegal:
"O TSE, como um órgão público, não pode manter colaboradores informais. Toda e qualquer relação funcional deve ser formalizada, em obediência aos princípios de transparência e publicidade previstos no artigo 37 da Constituição".
O questionamento que fica: se não era oficialmente ligada ao Tribunal, por que Sallorenzo incluiu em seu Lattes que era "colaboradora informal" do TSE? Resta saber se haverá alguma investigação sobre alguém que se apresenta como colaboradora do Tribunal sem ser oficialmente reconhecida.
Tese da Bruxa utilizada no relatório da PF sobre o golpe
Nesta semana, publicamos uma reportagem em A Investigação detalhando como a tese de Sallorenzo sobre firehosing foi utilizada pela Polícia Federal no relatório sobre o golpe de Estado no Brasil. A tese é usada como base para argumentar que Bolsonaro sabia que suas declarações sobre fraudes nas urnas eram falsas, mas insistiu na narrativa para justificar um golpe.
Um dos pontos centrais da acusação da PF é o caso dos “Kids Pretos”, trecho que já analisei e é parte deste relatório final. Minha análise revelou uma narrativa marcada por correlações circunstanciais e interpretações subjetivas. O documento apresenta um excesso de suposições, com termos como “provavelmente” e “possivelmente” sendo utilizados para justificar acusações graves, sem que provas concretas sejam apresentadas. A operação “Copa 2022”, apontada como central para o suposto golpe, foi abortada pelos próprios envolvidos antes de qualquer ação prática, demonstrando desorganização e falta de capacidade operacional.
Além disso, os documentos citados, como o “Punhal Verde e Amarelo” e a planilha “Desenho Op Luneta.xlsx”, carecem de conexão direta e inequívoca com ações planejadas contra Alexandre de Moraes. A única menção concreta ao ministro é genérica e não apresenta detalhes que sustentem um plano real de ataque ou prisão.
Nesta segunda-feira, 2, uma semana após a publicação da minha análise, a Folha de S. Paulo publicou uma reportagem confirmando minhas conclusões sobre as fragilidades do relatório da PF. Mesmo atrasada e com ressalvas, a matéria reconhece problemas graves na narrativa. De acordo com a Folha, a PF faz "afirmações categóricas com base em indícios parciais e passíveis de maior questionamento". E algumas dessas afirmações ainda carecem de elementos substanciais, como a de que Bolsonaro sabia de um plano para matar Lula, seu vice Geraldo Alckimin e Alexandre de Moraes.
"Todo juiz testa de ferro tem uma figura oculta por trás" Dilma Rousseff